Por que você resolveu se dedicar ao
estudo de Micologia Médica?
Ao cursar a disciplina de
microbiologia na graduação, tive uma excelente professora que gostava bastante
de micologia e de certa forma me incentivou a seguir nessa área com a
justificativa de que existem poucos profissionais micologistas. Então, fiquei curioso
e comecei a estudar mais sobre essa temática e acabei gostando.
·
Na
sua opinião quais são as vantagens e desvantagens da Micologia Médica?
A
grande vantagem da micologia médica acredito que seja no ponto de vista de
mercado de trabalho, pois como há poucos profissionais atuando na área, ser
micologista torna-se um diferencial. Quanto à desvantagem, destaco como
principal o fato de existirem poucos laboratórios de análises clínicas que
realizam exames para o diagnóstico de infecções fúngicas, sobretudo para as
micoses profundas, o que torna a micologia médica uma área muito negligenciada
no âmbito da saúde.
· Um Resumo de quais fungos são mais
prejudiciais a saúde e seus diagnósticos?
Os fungos podem causar danos à saúde
humana e animal de duas formas principais: pela ingestão de compostos tóxicos
produzidos pelos fungos ou pela colonização e invasão de tecidos e órgãos. No
primeiro caso, podemos desenvolver um quadro de micetismo, que é a intoxicação
causada pela ingestão de macrofungos (ingestão de cogumelos tóxicos, por ex. Amanita muscaria – que possui
propriedades psicoativas e alucinógenas para os humanos – são aqueles que
aparecem no jogo de videogame Super
Mario Bros). Já a micotoxicose é causada pela ingestão de micotoxinas
produzidas pelos fungos (por ex. a ingestão de amendoim contaminado com
Aflatoxina produzida pelo fungo Aspergillus
flavus). Quando da colonização e invasão tecidual e órgãos do hospedeiro,
atribui-se o nome de micose, que pode ser subdividida em micose superficial,
cutânea, subcutânea ou profunda. De maneira geral, os casos mais graves são aqueles
causados pelas micoses profundas, que podem afetar órgãos como os pulmões,
cérebro, fígado e outros, que muitas vezes levam o indivíduo à óbito. Essas
micoses geralmente são associadas a indivíduos imunocomprometidos, como
portadores do vírus HIV, pacientes noeplásicos, transplantados e outros. A
literatura tem mostrado que um dos fungos mais virulentos é o Coccidioides (espécies immitis e posadasii) considerado agente de bioterrorismo. Esse fungo causa a Coccidioidomicose,
uma infecção fúngica pouco conhecida, porém, considerada uma grande vilã, por
ser uma “imitadora” de outras doenças como tuberculose e pneumonia, pois
geralmente apresentam as mesmas manifestações clínicas. O diagnóstico
laboratorial é realizado pela análise microscópica da amostra, geralmente de
lavado bronco-alveolar, e pelo crescimento in
vitro em meios de cultura usados em rotina de micologia. No entanto, pela falta
de conhecimento dos profissionais de saúde acerca da doença, por existirem poucos laboratórios de
análises clínicas que realizam rotina de micologia e, pelo fato desse fungo ser
considerado de nível de biossegurança 3, poucos serviços de diagnóstico dispõe
de estrutura laboratorial para manipulação desse agente, o que dificulta
o diagnóstico e consequente o tratamento, levando ao insucesso terapêutico, e
resultando por muitas vezes no óbito do paciente.
· Sobre o mercado de trabalho nessa
área, o que você diria aos nossos leitores?
Como dito anteriormente, existem
poucos profissionais que atuam na área e poucos laboratórios que prestam
serviços de diagnóstico de infecções fúngicas. No entanto, nunca irá faltar
espaço para profissionais especialistas em qualquer área que seja, pois, um bom
profissional é aquele que sabe de tudo um pouco, mas é o melhor naquilo que
escolheu para seguir. Outro aspecto que deve ser citado é que não
necessariamente o profissional micologista deva atuar diretamente com o
diagnóstico micológico. Outras áreas da micologia também necessitam de
profissionais micologistas, tais como: na pesquisa, atuando no desenvolvimento
de novas drogas antifúngicas; na aplicação biotecnológica de fungos na
indústria alimentícia e; na docência, pois a micologia é essencial para a
formação generalista dos profissionais da saúde.
· Você pode citar para a gente da Missão
Biomédica, quais pesquisas você desenvolve no Centro Especializado em Micologia
Médica?
Minha área de estudo tem como objetivo
investigar a produção de fatores de virulência de
patógenos fúngicos, os mecanismos envolvidos na resistência aos antifúngicos e
a aplicação de modelos animais alternativos para o desenvolvimento de
estratégias antifúngicas. Durante o mestrado, adquiri experiência com testes de
sensibilidade a antifúngicos, biofilmes fúngicos, microscopia eletrônica de varredura
e microscopia confocal e, avaliação da relação parasito-hospedeiro e testes toxicológicos
utilizando o nematódeo Caenorhabditis
elegans como modelo alternativo à experimentação animal clássica. Durante o
mestrado
investiguei o efeito do bloqueio de uma proteína chaperona de stress térmico denominada Hsp90 sobre a
sensibilidade à antifúngicos e produção de fatores de virulência por leveduras
do gênero Cryptococcus. Já no
doutorado, investiguei o papel de antibacterianos clássicos como agentes
potenciadores do crescimento e virulência de leveduras do gênero Candida.
Missão Biomédica agradece a disponibilidade e profissionalismo
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