sexta-feira, 7 de julho de 2017

Entrevista completa com o Biomédico Antonio José de Jesus Evangelista. (Micologia Médica)


      Por que você resolveu se dedicar ao estudo de Micologia Médica?
Ao cursar a disciplina de microbiologia na graduação, tive uma excelente professora que gostava bastante de micologia e de certa forma me incentivou a seguir nessa área com a justificativa de que existem poucos profissionais micologistas. Então, fiquei curioso e comecei a estudar mais sobre essa temática e acabei gostando.

·         Na sua opinião quais são as vantagens e desvantagens da Micologia Médica?
A grande vantagem da micologia médica acredito que seja no ponto de vista de mercado de trabalho, pois como há poucos profissionais atuando na área, ser micologista torna-se um diferencial. Quanto à desvantagem, destaco como principal o fato de existirem poucos laboratórios de análises clínicas que realizam exames para o diagnóstico de infecções fúngicas, sobretudo para as micoses profundas, o que torna a micologia médica uma área muito negligenciada no âmbito da saúde.

·        Um Resumo de quais fungos são mais prejudiciais a saúde e seus diagnósticos?
Os fungos podem causar danos à saúde humana e animal de duas formas principais: pela ingestão de compostos tóxicos produzidos pelos fungos ou pela colonização e invasão de tecidos e órgãos. No primeiro caso, podemos desenvolver um quadro de micetismo, que é a intoxicação causada pela ingestão de macrofungos (ingestão de cogumelos tóxicos, por ex. Amanita muscaria – que possui propriedades psicoativas e alucinógenas para os humanos – são aqueles que aparecem no jogo de videogame Super Mario Bros). Já a micotoxicose é causada pela ingestão de micotoxinas produzidas pelos fungos (por ex. a ingestão de amendoim contaminado com Aflatoxina produzida pelo fungo Aspergillus flavus). Quando da colonização e invasão tecidual e órgãos do hospedeiro, atribui-se o nome de micose, que pode ser subdividida em micose superficial, cutânea, subcutânea ou profunda. De maneira geral, os casos mais graves são aqueles causados pelas micoses profundas, que podem afetar órgãos como os pulmões, cérebro, fígado e outros, que muitas vezes levam o indivíduo à óbito. Essas micoses geralmente são associadas a indivíduos imunocomprometidos, como portadores do vírus HIV, pacientes noeplásicos, transplantados e outros. A literatura tem mostrado que um dos fungos mais virulentos é o Coccidioides (espécies immitis e posadasii) considerado agente de bioterrorismo. Esse fungo causa a Coccidioidomicose, uma infecção fúngica pouco conhecida, porém, considerada uma grande vilã, por ser uma “imitadora” de outras doenças como tuberculose e pneumonia, pois geralmente apresentam as mesmas manifestações clínicas. O diagnóstico laboratorial é realizado pela análise microscópica da amostra, geralmente de lavado bronco-alveolar, e pelo crescimento in vitro em meios de cultura usados em rotina de micologia. No entanto, pela falta de conhecimento dos profissionais de saúde acerca da doença, por existirem poucos laboratórios de análises clínicas que realizam rotina de micologia e, pelo fato desse fungo ser considerado de nível de biossegurança 3, poucos serviços de diagnóstico dispõe de estrutura laboratorial para manipulação desse agente, o que dificulta o diagnóstico e consequente o tratamento, levando ao insucesso terapêutico, e resultando por muitas vezes no óbito do paciente.

·        Sobre o mercado de trabalho nessa área, o que você diria aos nossos leitores?
Como dito anteriormente, existem poucos profissionais que atuam na área e poucos laboratórios que prestam serviços de diagnóstico de infecções fúngicas. No entanto, nunca irá faltar espaço para profissionais especialistas em qualquer área que seja, pois, um bom profissional é aquele que sabe de tudo um pouco, mas é o melhor naquilo que escolheu para seguir. Outro aspecto que deve ser citado é que não necessariamente o profissional micologista deva atuar diretamente com o diagnóstico micológico. Outras áreas da micologia também necessitam de profissionais micologistas, tais como: na pesquisa, atuando no desenvolvimento de novas drogas antifúngicas; na aplicação biotecnológica de fungos na indústria alimentícia e; na docência, pois a micologia é essencial para a formação generalista dos profissionais da saúde.

·       Você pode citar para a gente da Missão Biomédica, quais pesquisas você desenvolve no Centro Especializado em Micologia Médica?

Minha área de estudo tem como objetivo investigar a produção de fatores de virulência de patógenos fúngicos, os mecanismos envolvidos na resistência aos antifúngicos e a aplicação de modelos animais alternativos para o desenvolvimento de estratégias antifúngicas. Durante o mestrado, adquiri experiência com testes de sensibilidade a antifúngicos, biofilmes fúngicos, microscopia eletrônica de varredura e microscopia confocal e, avaliação da relação parasito-hospedeiro e testes toxicológicos utilizando o nematódeo Caenorhabditis elegans como modelo alternativo à experimentação animal clássica. Durante o mestrado investiguei o efeito do bloqueio de uma proteína chaperona de stress térmico denominada Hsp90 sobre a sensibilidade à antifúngicos e produção de fatores de virulência por leveduras do gênero Cryptococcus. Já no doutorado, investiguei o papel de antibacterianos clássicos como agentes potenciadores do crescimento e virulência de leveduras do gênero Candida.
Missão Biomédica agradece a  disponibilidade e profissionalismo

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